Quando pensamos em design em um contexto de produtos digitais, a primeira coisa que nos vem à mente é, na maioria das vezes, a estética de um software. E isso não é errado, muito pelo contrário! Eu diria que isso, na verdade, é o esperado. Garantir que um sistema tenha uma interface amigável e que realmente atenda às necessidades do usuário é — e realmente deve ser — a principal função de um profissional da área. Afinal, “você não tem uma segunda chance de causar uma primeira impressão”, e não quer que ela seja arruinada por um layout ruim ou um fluxo de telas confuso.
Porém os benefícios do UX/UI são inúmeros, e reduzi-los a apenas esses fatores, que, a rigor, estão a nível de produto, é uma ótica que chega a ser simplória. Um processo de design bem feito também traz implicações a nível de negócio, e a ideia desse texto é discorrer brevemente sobre elas.
Aqui na Capyba, gostamos de fazer a seguinte analogia: a etapa de design — seja concepção ou redesign — está para um projeto de arquitetura, assim como o desenvolvimento de um software está para a construção (ou reforma) de uma casa. Isso porque a lógica nos processos é similar: gerar um protótipo que nos permita visualizar, de maneira fidedigna, o objeto final antes que este venha a ser desenvolvido ou construído. Nesse caso, o protótipo de UX/UI Design funciona como a maquete do software, e, em ambos os contextos, essa materialização é essencial para garantirmos que o que será construído está em linha com as nossas expectativas.
Imagine um cenário em que uma startup investe todo seu recurso no desenvolvimento de um software baseado em um documento de texto, onde os requisitos que aquele sistema precisa cumprir estão apenas descritos em palavras. Ao realizar o rito de apresentação do que foi feito até o momento, os stakeholders percebem que o time de desenvolvimento seguiu por um caminho diferente do que era esperado/imaginado. Isso acontece porque um documento textual, na maioria das vezes, pode ser interpretado de diversas maneiras (e certamente será)! É como se, após terem a fundação da casa já realizada, os donos percebessem que a tão sonhada piscina está no lado poente.
Sem o protótipo como apoio visual, a empresa ficou sujeita a possíveis diferenças de interpretação das pessoas desenvolvedoras. Agora, com parte do sistema já desenvolvido (ou a construção da casa já iniciada), não é possível reaver os investimentos de tempo e dinheiro feitos. É nessa hora que começamos a falar de negócio.
Podemos afirmar que a materialização proporcionada pelo design gera, por si só, uma minimização de diversos riscos atrelados ao processo de desenvolvimento de software, como vimos no exemplo citado anteriormente.
Outro fator que corrobora com isso é que poder visualizar o provável resultado final do projeto com antecedência nos permite ter uma noção mais clara do tamanho do investimento, de tempo e dinheiro, a ser feito. A partir daí, é possível ponderar qual caminho seguir, levando em consideração dois pontos importantes: orçamento disponível e priorização.
O orçamento é enxuto e/ou o sistema é mais robusto do que o imaginado? Com a maquete do software fica muito mais fácil enxergar o core do negócio e priorizar funcionalidades para lançar uma primeira versão do produto com apenas o essencial — um MVP. Isso permite que o produto atinja seus primeiros clientes e que a empresa já o tracione, possibilitando novos investimentos em sua melhoria ou no lançamento de novas funcionalidades.
Aqui, ainda podemos definir qual caminho faz mais sentido para o projeto de desenvolvimento do software: internalizar time ou terceirizar serviço? Em linhas gerais, essa é uma outra boa discussão e, caso queira se aprofundar no assunto, sugiro dar uma olhadinha no conteúdo que Eduardo, sócio-fundador da Capyba, preparou apresentando os pontos positivos e negativos de cada uma dessas estratégias!
Além de tudo isso, outra vantagem do design, e esse talvez seja o ponto mais importante, é a possibilidade de antever problemas e, a partir disso, realizar ajustes com menor risco de perda de tempo e dinheiro lá na frente. Afinal, é muito mais rápido e menos custoso fazer mudanças em uma maquete do que reconstruir algo que já foi levantado. Sendo assim, com o protótipo em mãos, tomar decisões se torna um processo mais simples e fácil.
Os exemplos citados anteriormente — a divergência de interpretação entre stakeholders e pessoas desenvolvedoras e a falta de orçamento — já são ilustrações de problemas que seriam evitados com um processo de design, mas podemos ir além. Um time de desenvolvimento munido com um protótipo é capaz de compreender com antecedência onde estão os riscos daquele sistema, seja a nível de código ou na obtenção de informações cruciais para o funcionamento do mesmo, e, assim, elaborar um planejamento adequado.
Isso mostra como, mesmo tornando o desenvolvimento de software mais lento no curto prazo, rodar um processo de concepção ou redesign de um sistema é, na verdade, um ganho no longo prazo.
Mas os benefícios do design não param por aí! Aqui na Capyba, percebemos, ao longo de anos trabalhando com startups, que ter uma boa “maquete do software” corrobora muito para teses de investimento.
Um cenário bastante comum para que empresas realizam uma iteração de UX/UI em seus produtos é perceber que o investimento a ser feito é muito maior do que o orçamento disponível. Mas isso não deve ser encarado como algo negativo, uma vez que essa empresa acabou evitando dar início a um projeto que não tinha condições de finalizar.
Nesse momento, vários negócios digitais pulverizam riscos e aceleram seu negócio através de investimentos. Aqui, existem algumas opções: de investimento anjo ao Corporate Venture Capital (CVC), passando por editais de fomento, aceleração, capital semente e até rodadas de investimento mais robustas, como Series A, B, C e além.
Em todos esses casos, uma boa “maquete do software” ajudará na construção de uma tese de investimento mais consistente do produto e do negócio, uma vez que o protótipo deixa mais claro e palpável para os investidores onde eles estão colocando seu dinheiro. Além disso, o risco de investir em uma solução que já foi testada e validada com usuários é muito menor quando comparado ao risco de fazer um aporte financeiro em uma ideia que ainda está em estado abstrato.
Realizar um processo de design ainda é visto por muitas empresas com produto em estágio inicial, e por muitos tomadores de decisão, como algo desnecessário. A ideia de investir em algo que o cliente não pode usufruir imediatamente é, muitas vezes, encarado como perda de tempo e dinheiro. O problema, nesse caso, é a dificuldade de enxergar os ganhos no longo prazo.
Aqui, trago a provocação de olharmos para o design com uma outra ótica, onde este se torna área fundamental para a organização, guiando os próximos passos e criando uma base sólida para que novos patamares sejam alcançados no futuro. Afinal, essa é a principal importância do design a nível de negócios: mais assertividade na tomada de decisão.
Essa publicação foi baseada naquilo que aprendemos aqui na Capyba ao longo de nossa trajetória como empresa desenvolvedora de software. Esse conhecimento é perpetuado através de nossas lideranças, representadas, principalmente, pela figura de nosso CEO, Ronald Dener.